Trabalho remoto e cultura organizacional: desafios e abordagens
Você já disse ou ouviu que a cultura da empresa se constrói no cafezinho, e não nas atividades com o RH? Essa visão, por mais inocente que pareça, pode trazer um desafio latente desde 2020: transmitir a cultura corporativa no modelo de trabalho híbrido ou remoto. E é sobre esse desafio que falaremos neste artigo.
Muitos gestores têm relatado essa mesma dificuldade aos consultores aqui da Flow. Além disso, dados mundiais demonstram o tamanho da dificuldade. Segundo pesquisa da Gartner, apenas 30% da força de trabalho intelectual se sente integrada à cultura da empresa.
A reação mais comum diante desse cenário é culpar o formato de trabalho pelas dificuldades. Mas e se o modelo híbrido ou remoto estiver, na verdade, evidenciando um problema mais profundo e antigo? Quem nos traz essa provocação é Ester Cunha, Gerente de Cultura e Transformação na Flow Group Brasil. E é a partir desta visão que nos aprofundaremos a partir daqui.
Trabalho remoto e cultura organizacional: o modelo de trabalho não é o vilão
Precisamos pensar se o vilão é realmente o trabalho híbrido ou se, como aconteceu com uma série de outras questões organizacionais, ele só não está trazendo à tona um problema que já estava ali debaixo do tapete.
No mundo pré-pandemia cujo modelo de trabalho predominante era 100% presencial, boa parte das organizações encaravam a transmissão da cultura de forma pouco intencional. Quantas vezes já ouvimos expressões como “a integração de verdade acontece no cafezinho e não na sala com a equipe de RH”?
Essa e outras expressões evidenciam essa abordagem pouco intencional, a partir da qual a transmissão da cultura é vista como algo que acontece nos intervalos, na conversa do café, no almoço… Pode não parecer, mas isso é um grande problema. Afinal, quando falamos de cultura organizacional, o ideal é que sejamos sempre muito intencionais ao praticá-la e transmiti-la. Como coloca a própria Ester:
“Todo o trabalho precisa conversar com a cultura daquela organização, toda forma de interagir precisa estar pautada pelos valores da empresa. Online ou presencialmente, tudo que se faz dentro da empresa precisa estar alinhado a esses valores”.
Mas como fazer isso?
Transmitir a cultura organizacional no trabalho remoto: uma abordagem possível
Alinhamento
O alinhamento é o primeiro ponto essencial para assumir uma postura mais intencional diante da transmissão da cultura da empresa. Isso vale tanto para o modelo de trabalho presencial quanto para o híbrido ou remoto.
Para isso, precisamos estar mais atentos à prática dos valores. Os valores não podem simplesmente estar na parede de um escritório super bem decorado. Eles precisam estar no dia a dia das pessoas – é a partir daí que o alinhamento pode ser alcançado.
Conexão
Pode até parecer contraintuitivo, mas a conexão também não é facilitada só pelo contato presencial. Estamos falando aqui de uma conexão que é emocional e não física. Como as pessoas podem acessar e contar umas com as outras?
Mesmo no trabalho remoto, podemos criar mecanismos que possibilitem e estimulem essa conexão. Além do mais, sabemos bem que o modelo presencial nem sempre garante essa oportunidade. Nesse sentido, o que importa não é se as pessoas estão no mesmo escritório ou espalhadas pelo mundo. O que importa é como os processos estão organizados na empresa como um todo.
Gerenciamento de microculturas
Outro ponto muito importante é o gerenciamento das microculturas presentes na empresa. Pensemos no caso das multinacionais, por exemplo. Nelas, já há uma percepção de múltiplas culturas no interior da mesma organização.
Existe, claro, a cultura da matriz que informa todas as outras. Ainda assim, é preciso administrar a cultura local de cada filial para que haja uma coesão entre o todo e, simultaneamente, as peculiaridades, desafios e potencialidades locais tenham seu espaço.
Quando pensamos em uma empresa menor, essa lógica se aplica na relação entre a cultura geral e a cultura de cada área do negócio. Nesse cenário, precisamos sempre nos perguntar: qual é o espaço que devemos garantir para essas particularidades e qual é o grau de aderência à cultura geral que devemos buscar e promover?
Afinal, é possível transmitir a cultura organizacional no modelo híbrido e remoto?
A resposta é sim! O que não quer dizer que é fácil…
O que identificamos no trabalho direto com dezenas de empresas é que:
- Sim, a mudança brusca entre trabalho presencial e remoto dificultou a integração dos colaboradores entre si e com relação à empresa;
- Isso não quer dizer que o único jeito de transmitir a cultura da empresa seja obrigando os colaboradores a voltar para os escritórios;
- Os desafios do trabalho remoto demonstraram um problema anterior: muitas empresas contavam com os contatos informais entre colaboradores para transmitir a cultura organizacional e promover uma integração;
- Quando a transmissão da cultura é encarada de maneira intencional e planejada, ela pode ocorrer presencialmente ou nos ambientes digitais.
E já concluindo…
E então, como você e sua empresa estão lidando com esse tema? Conte para nós aqui nos comentários ou pelas redes sociais. Ampliar o debate pode ajudar todos a encontrarem novos caminhos!